quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Australopiteco Lucy já caminhava

Em 1974, o investigador Donald Johanson e a sua equipa encontraram os restos fósseis, com cerca de 3,2 milhões de anos, muito bem conservados, da fêmea de uma espécie de hominídeo, então desconhecida, a que deram o nome de Lucy, inspirados na canção dos Beatles, 'Lucy in the sky with diamonds'. É o esqueleto mais completo da espécie 'Australopithecus afarensis'. No entanto, ela foi encontrada sem os ossos do pé, e não foi possível saber se já tinha andar bípede ou ainda vivia nas árvores.

           
Esqueleto de Lucy (Australopithecus afarensis) - Fonte: wikipédia

O mistério acaba de resolver-se com a descoberta, publicada hoje na revista 'Science', de um osso fóssil do pé de um 'Australopithecus afarensis', que certifica que esta espécie já caminhava de forma bípeda, como os humanos modernos, de acordo com os autores do relatório, Carol Ward, da Universidade de Missouri, em conjunto com William Kimbel e Donald Johanson de Arizona State University’s Institute of Human Origins.
O osso fossilizado foi recuperado em Hadar, na Etiópia, tal como Lucy, e com idade aproximada de 3,2 milhões de anos. É o quarto dos cinco ossos que compõem o metatarso (pé esquerdo) – que no pé faz a ligação entre os ossos do calcanhar e dos dedos. Este osso tem a curvatura própria dos pés, tanto nos primeiros hominídeos bípedos conhecidos, como no Homo sapiens, o que prova que esta espécie caminhava sobre duas pernas, assentando os pés no chão (ver osso aqui).

Lucy era bípede - Fonte: wikipédia

Esta espécie, cujo exemplar mais conhecido é "Lucy", viveu na África Oriental entre 3,0-3,8 milhões de anos atrás. Antes de Australopithecus afarensis, a espécie Australopithecus anamensis esteve presente no Quénia e na Etiópia entre 4,2-4,0 milhões de anos atrás, mas o seu esqueleto não é bem conhecido.
 Há 4,4 milhões de anos, a espécie Ardipithecus ramidus da Etiópia é o mais antigo antepassado humano bem representado por restos de esqueletos. Embora Ardipithecus ramidus pareça ter sido um bípede em part-time terrestre, o seu pé mantém muitas características de primatas que vivem nas árvores, incluindo um primeiro dedo móvel divergente. O pé do Australopithecus afarensis, como noutras partes do seu esqueleto, é muito mais parecido com o dos seres humanos vivos, o que implica que no momento da Lucy, os nossos antepassados já não dependiam das árvores para refúgio ou recursos.
O projeto Hadar é o maior programa de campo de paleoantropologia no Vale do Rift da Etiópia, há mais de 38 anos. Desde 1973, o trabalho de campo em Hadar produziu mais de 370 espécimes fósseis de Australopithecus afarensis entre 3,4 e 3,0 milhões de anos - uma das maiores colecções de uma única espécie de hominídeo fóssil em África -, bem como um dos fósseis mais antigos conhecidos de Homo e abundantes ferramentas de pedra Oldowan (cerca de 2,3 milhões).
Uma das adaptações evolutivas chave para a forma bípede de caminhar dos humanos é o desenvolvimento de arcos permanentes nos pés. Isto permite a absorção dos impactos durante a locomoção e dá a flexibilidade necessária para caminhar ou correr com diferentes velocidades. As pessoas com pés chatos não têm esta curvatura e podem apresentar vários problemas a nível das articulações ósseas.
Para os cientistas envolvidos no estudo, esta descoberta torna mais sólida a árvore evolutiva que une os humanos modernos com os seus parentes primitivos. Há uma maior ligação entre  'Australopithecus afarensis' e as espécies de hominídeos modernos. Até agora, a primeira evidência desta estrutura de um esqueleto bípede datava de 1,8 milhões de anos atrás, nos fósseis do 'Homo erectus', na Eurásia.
Para Carol Ward, co-autora do trabalho, a forma de caminhar determina a ecologia desta espécie. Combinando o andar bípede com umas fortes mandíbulas, Lucy e os seus parentes abandonaram as copas das árvores e colonizaram áreas abertas com distintos tipos de alimentos.
Fontes: Público.pt / El Mundo / ASU News

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